terça-feira, 28 de outubro de 2014

Sou prioritária!

Centro de saúde. Uma jovem mulher brasileira acaba de chegar e dirige-se ao segurança perguntando-lhe :
- Ond'é qu'eu tiro à sênha di preoritária? É qu'eu tô grávida!
O segurança olha para uma sala de espera cheia de idosos, aleijados e crianças choramingas e lhe responde com o ar mais calmo possível:
- Aqui, todos são prioritários minha senhora. Tire a senha e aguarde.
Questionei-me sobre o perigo que pode resultar para um feto, a exposição da mãe a um leque tão variado de doenças infecto-contagiosas, passíveis de ser encontradas numa sala de espera de um centro de saúde ou hospital. Esse é um pensamento para desenvolver noutra oportunidade, por agora fixo-me no exercício do direito de prioridade.

O direito a ser prioritário durante uma certa fase da vida é-me moralmente inquestionável: subscrevo e defendo. No entanto sinto-me ofendida cada vez que é usado com prepotência, de forma maliciosa e abusiva.
Quantas vezes nos deparamos com mães que transportam as compras do supermercado no carrinho de bebé arrastando-os pela mão ao lado até se cansarem, para depois se apresentarem na fila de espera da caixa, com a criança já ao colo num pranto? Quantas vezes já deixamos passar um idoso à frente que nem sequer usa bengala, só porque nos atirou à cara as dificuldades próprias da idade e que depois se detém 10 minutos na regateirice com a vizinha?

Nem sempre se percebe o motivo da urgência, ou o que motivou a sociedade a lhes conferir esses direitos honoríficos. Por vezes acho que foram motivos humanitários da melhor índole, outras vezes penso que nos queremos apenas ver livres das pessoas: se se despacharem primeiro deixam-nos em paz na nossa vidinha, e não temos que ouvir os gritos e choros das crianças dos outros!

Será...?

sábado, 4 de outubro de 2014

Antiguidades?!

Sr Presidente de Câmara (e mais recentemente - do Partido Socialista), há quanto tempo não anda a pé na «sua» cidade?
Chamo-lhe «sua» porque a tomou ao seu cuidado mas, mais parece que "A" esqueceu por força do hábito de tanto a ver. Deixe-me que lha apresente outra vez, através do olhar de outros.
Convido-o a se deslocar a pé desde a sede do seu partido à Assembleia da República pela rua de S. Bento, não é muito longe, apenas 900m (10 minutos a pé)  bastará para ver Lisboa como ela é.

Esta é a rua dos antiquários por excelência, e lá isso está: cheia de antiguidades dentro e FORA dos estabelecimentos: reparou nos vários postes do séc.IX mumificados pelo tempo, que ainda se erguem no meio da calçada? Notou como são espaçosos estes passeios, e como é fácil para idosos e cadeiras de rodas contorna-los? E as placa com listas vermelhas e brancas com que estão decorados...pensa que serão suficientes para impedir um cego de ficar lá espetado como um panfleto?
Nalguns casos já não se percebe: se os postes seguram os inúmeros fios pretos ou se são seguros por eles. Para que servem?
Uma forma inovadora de fazer chegar a fibra aos portugueses?
Repare na decadência das fachadas, no total abandono imobiliário quer seja de prédios novos, a recuperar ou devolutos e repare nos que sobrevivem, orgulhosos com as suas fachadas pintadas de fresco e desfigurados por um emaranhado absurdo de cabos pretos. É este futuro digital aceitável no enquadramento urbanístico da cidade antiga? Talvez (como eu) tenha oportunidade de se cruzar com turistas que entre selfies lhe perguntarão: para que servem aqueles cabos horríveis? O que lhes vai responder?

Por fim tome especial atenção à loja que se encontra ao fim da rua do lado direito, em frente a lateral da assembleia - O Barateiro da Casa Amarela - com a sua exposição de penicos na fachada, de abertura virada para tão nobre edifício símbolo do poder democrático.
Será uma mensagem ao país?
Um aviso ao turismo de uma das mais emblemáticas rua da cidade?
Pretenderá este antigo comerciante e habitante desta belíssima cidade querer dizer...que dali da frente...só vem merda?